terça-feira, 21 de junho de 2011

Não pode ter preconceito contra os ricos, diz grafiteiro

ESPECIAL PARA A FOLHA
Um dos brasileiros selecionados pela curadoria da exposição "A Mudança" é Presto, 35, grafiteiro que atua desde 1996 em São Paulo. Presto foi convidado para trabalhar no átrio principal do Banco Mundial, em obra que integrará o acervo da instituição. (AVP)



Folha - Como grafiteiro, o que você acha de trabalhar em um lugar tão inacessível quanto o átrio principal do Banco Mundial?
Presto -
A arte tem de estar em todo lugar, a gente não pode ter preconceito, nem com os mais abastados.

Qual é a ideia do trabalho que você está preparando para a coleção do Banco Mundial?
Resolvi fazer um negócio sobre pessoas. Vi que o banco tem muitas atividades. Vi que um dos projetos que financia é a limpeza de córregos em São Paulo.
E
u achei importante recordar que tudo o que se muda no mundo tem que contar com a mudança das pessoas.

Quando você começou, em 1996, o grafite estava associado a alguma espécie de reação contra a cidade? Você tinha noção do alcance educacional que seu trabalho poderia ter?
Quando comecei, aos 19, tinha muita desilusão. Imagine, no Brasil, um artista sem formação. Não tinha espaço no circuito. Nem Osgemeos expunham. Isso só foi acontecer muitos anos depois. Não imaginávamos que haveria uma exposição de arte de rua num museu.
A gente não fazia o que fazia porque achava que conseguiria alguma coisa. Para a gente, a vitória era conseguir um espaço público.

Quer dizer que você resolveu conquistar espaço para expor as suas obras?
Era um espaço expositivo que eu tomei na marra -e continuo tomando. A rua é minha, também. Eu também estou ali. Conheço o cara que mora debaixo da ponte e acho que eu tenho tanto direito quanto qualquer autoridade de dizer o que é legal para aquele lugar.
Quando pinto, vou de peito aberto. Eu estou sendo sincero, estou doando uma parte de mim e do meu trabalho.
Minha intervenção quebra a frieza do espaço urbano. E com isso você quebra um monte de coisas que são terríveis na cidade, como o medo, a paranoia do desconhecido, a janela fechada, as pessoas andando apressadas.

Você acha que consegue revelar a beleza escondida do espaço urbano?
Exatamente. Falta um olhar mais amoroso. As pessoas parecem não ter amor pelas outras, não ter amor pela cidade. As pessoas não têm educação urbana.
Acho que o mérito do meu trabalho é mostrar que a cidade nos pertence.
Quero mostrar que as pessoas têm poder e responsabilidade. Não adianta ficar sentado. Uma hora a cidade vem bater na sua casa.

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